terça-feira, 2 de novembro de 2010

A CIGANA


Naquela manhã recebia a pequena cidade De terras vermelhas, realçadas pelo sol de verão Cantarolantes carroças, ocupadas por alegres figuras De pele bronzeada e cabelos negros. Reflexos dourados de brincos e colares Vinham fazer parte dos vermelhos raios De um sol nascente Da estrada da montanha, já começando a descida Se via erguida pontiaguda cruz da igreja Posicionada no centro da cidadezinha Ao chegar na entrada da cidade Os aldeões saltavam de suas casas Sedentos pela novidade, outros Pelas frestas das janelas espiavam Como que incomodados pela alegria A ultima das carroças a entrar na cidade Mostrava através do balançar de suas cortinas Uma doce figura feminina, inocentemente tímida. A que não passou desapercebido de importante fidalgo Da cidade. Já ao anoitecer percorria a cidade um jovem cigano A gritar; - O grande show começa as oito horas, - venham descobrir o que lhes aguarda para o futuro - venham ter boa sorte com a cigana Irene - venham ver o espetáculo de dança que foi aplaudido de pé pelos reis da Inglaterra. Ravel o jovem fidalgo, jamais se entusiasmara com jogos de sorte Muito menos com danças, porem as jovens lhe faziam gostar de qualquer coisa. E ele não perderia a chance de olhar de perto a figura que tanto o intrigara. O vinho jorrava como as chuvas de verão Inebriados os aldeões dançavam ao som de um afinadíssimo violino Por todo lado o cheiro de vinho se misturava ao de carnes assando Para todos a festa já havia começado, menos para Ravel que aguardava impaciente A hora da boa sorte. Quando salta a frete de uma das carroças, agora em forma de palco Um gordo homem já de seus cinqüenta anos, trajando roupas que se esforçavam Em parecer um traje de espetáculo e diz - É chegada a hora da boa sorte! Avançam duas pequenas cadeiras, uma mesa e com poucos movimentos Ergue-se uma cabine. Irene entra sem ser percebida e se senta em silencio O gordo homem percorre a platéia com seus pequenos olhos De doninha, avistando seu alvo. O jovem fidalgo ali presente sobressaia pelas suas nobres roupas O que logo lhe garantiu ser o primeiro convidado da noite. Vacilante sobe Ravel os três degraus que o separavam da cabine Receoso de ter perdido seu tempo, pos poderia estar ali qualquer outra pessoa Abriu discreto sorriso ao se sentar em frente à linda morena, cujo verde dos Olhos só se encontravam em raros recantos marinhos. Ela foi rápida para disfarçar o penetrante olhar que lançou ao rapaz; Disse Irene; - Passado, futuro ou presente? Ravel; - Não vim aqui para isso, não creio no que tu vendes, acredito apenas no que meus olhos vêem e não pude deixar de te conhecer. Irene; - então pague e se vá. Ravel; Quanto tempo gasta para ler o futuro? Irene; - Varia porque uns vivem mais do que os outros. Sorriu a menina! Ravel; Quero saber meu futuro, exatamente o futuro que se mistura com o seu... Sorriu O rapaz. A menina sentiu um tremor, embora acostumada a galanteios percebia que seus destinos De alguma forma se tocavam, o olhar daquele rapaz parecia tão conhecido. E respondeu; - Se é por isso que gastou seu dinheiro concluirás que perdeu também o seu tempo. Ravel; - Tola não sabes o que perde, enquanto muitas tentam me agradar, te dou de graça minha atenção e desprezas, sabes quem eu sou? Exijo que me leias o futuro, porque paguei e quero agora o que me pertence. A menina suspirou e disse; - Teus dias serão como as voltas do moinho e suas emoções como leões famintos a devorar seus pensamentos a felicidade será exilada da tua vida e te serás companhia a presença de um amor intocável a morte não te sucumbira à vida, porem fará moradia em teus pensamentos. E será sim o resto de seus dias. Ravel descrente apostando na resposta irritada da linda mulher retornou. - E diante de fim tão trágico, não me restaria o consolo de seu amor minha flor? A menina sobressalta e diz; - Talvez o meu amor seja a única coisa que te sobre, embora tarde. E com lagrimas nos olhos pediu que o jovem se retirasse, avisou ao homem gordo Que não atenderia mais ninguém naquele dia. O gordo homem com gestos bravos gritou que havia acabado a ora da boa sorte Lançando um olhar feroz ao mancebo disse “ vá embora já recebeu pelo que pagou”. Irene tão sorrateira como entrou saiu, para seu pequeno cubículo na carroça. Ravel inconformado caminhava elaborando seu ataque, conhecia as mulheres, principalmente quando era bem quisto e decidiu que naquela noite teria Irene nos braços, Mesmo contra sua vontade. Na madrugada, voltou o jovem para perto das carroças, teria a mulher para si, não queria apenas toques, queria tudo. Ao chegar perto da carroça-palco não encontrou ninguém, olhou a volta e viu um vulto a correr pela vila. Foi atrás com o coração apertado, pensando como em tão pouco tempo ficara apaixonado. O vulto fora reconhecido, era a cigana, ia ela encontrar-se com alguém, era por isso que não o quis, já tinha outro, estava angustiado, já não concebia a idéia daquelas formas nas mãos de outro homem, ela teria que entendê-lo. Ele não queria uma aventura, se o conhecesse melhor o veria de outra forma. Irene chegou ao castelo, e ficou a espreita entre as roseiras do jardim. O irmão de Ravel apareceu e ela se movimentou inquieta. Com horror decidiu, Ravel não aceitaria tal situação. Não lhe roubaria o irmão seu verdadeiro amor. Estava dominado por emoções incontroláveis. E gritou; - Não permitirei tal injuria, nem conviverei com a mulher de minha vida nos braços de meu irmão. Se é assim tal trágico destino o tal previsto a mim, que seja consumado. As duas figuras se olhavam a interrogar-se quando... Ravel desembainhou sua espada e o fio fino e frio do aço tocou a pele quente e bronzeada da menina, logo depois antes que as gotas de sangue tocassem o chão, misturou o sangue da virgem com o seu sangue, com o sangue de seu irmão e os dois como se amparados pelo vento tocaram suavemente a relva do jardim. “Esta feito”, disse Ravel, consumou-se sua trágica previsão infeliz feiticeira. Voltarei aos seus e porei fim a essa corja de ciganos. Ao chegar às carroças o gordo cigano em prantos olhava para um pequeno escrito Ravel se aproximou e o cigano lhe entregou o papel dizendo. - Por favor não leve minha menininha de mim. Ravel tomou o pequeno pedaço de papel, nele estava o delicado perfume que sentira na cigana. Assim dizia: - “Papai tu me és e sempre serás querido, mas me tomou um violento amor pelo jovem galego Ravel e não aceito partir e deixá-lo, vou ter com ele para saber se realmente me quer e se assim for meu pai querido, serei dele para sempre, não me importa o que ele fará de mim depois, mas este momento será meu. De sua filhinha Irene.” Pelo chão se derramou o jovem rapaz, o destino não o poupou de nada, enredo cruel que traçou a vida, separando um homem de tudo o que lhe era valoroso e lançando a culpa em suas próprias mãos. As palavras da cigana, nos poucos momentos em que pode sentir o timbre de sua voz Ecoavam ainda em dor e lembrança de amor do qual o rapaz agora velho não ousava esquecer.

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